Primeiro turno teve recorde de abstenção em eleições municipais desde 1996

Publicado 16/11/2020
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A pandemia da covid-19 explica em parte a taxa recorde de abstenção no primeiro turno das eleições municipais realizadas no domingo (15). Dados preliminares do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que 34,2 milhões dos mais de 147 milhões de brasileiros aptos a votar não compareceram às urnas, o que corresponde a 23,14%.

O índice de abstenção no pleito municipal é o maior desde 1996, ano em que as urnas eletrônicas começaram a ser utilizadas. O movimento já era esperado devido à pandemia e a consequente preocupação de eleitores em evitar aglomerações. Mas cientistas políticos avaliam que o crescimento da abstenção é uma tendência desde antes da pandemia. Nas duas eleições municipais anteriores, a abstenção no primeiro turno foi de 17,58% em 2016 e de 16,41% em 2012.

O professor da Universidade de Brasília (UnB) e cientista político Ricardo Caldas aponta uma série de fatores para a queda na participação dos eleitores e avalia que a tendência parece ser irreversível.

— Para muitas pessoas não é importante votar. Há uma sensação por parte dessas pessoas que o voto delas não afetam o resultado geral, embora obviamente afete. A penalidade para o não comparecimento também é muito baixa. A pandemia acentuou essa tendência. Penso que ela é irreversível — apontou.

Segundo Gilberto Guerzoni, consultor legislativo do Senado, muitas vezes os eleitores não conseguem identificar políticos que correspondam às suas próprias ideias:

— Acho que isso [a abstenção] pode ter sido provocado por uma resistência à política. A ideia de que o nosso sistema representativo não consegue representar a população.  

No Rio de Janeiro e em Porto Alegre, um terço dos eleitores não votou; Em São Paulo, o índice de abstenção foi de 29%. E em mais da metade das capitais foi superior a 25%. 

Na eleição mais recente, a presidencial de 2018, a abstenção no primeiro turno ficou em 20,33%. O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, chegou a afirmar que a abstenção poderia chegar a 30% em 2020. Ele comemorou a participação dos brasileiros nas eleições deste ano.

— Os níveis de abstenções foram inferiores a 25%, portanto, em plena pandemia, nós tivemos um índice de abstenção pouca coisa superior a das eleições passadas — disse em entrevista coletiva no domingo.