Menina viraliza com tabela improvisada em Rondônia e é presenteada por campeã do Pan
Armadora da seleção brasileira que conquistou o ouro no Pan de Lima em 2019, Tainá Paixão vibra com determinação de Hadassa Bruna, de 6 anos: "Representa a história de muitas"

Publicado 31/05/2020
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Foto: Arquivo pessoal

Nos fundos de casa, cercada por muros de tijolo e cimento aparente na cidade de Porto Velho, em Rondônia, a pequena Hadassa Bruna está decidida a ser jogadora de basquete. O cenário pode não ser ideal para um começo promissor no esporte, mas a dificuldade tem sido tirada de letra e com criatividade pela família da garotinha de apenas 6 anos.

Se não há quadra disponível e se tempos de pandemia não permitem tantas alternativas, o jeito é improvisar. Matheus Gama, tio de Hadassa, construiu uma tabela com pedaços de madeira e um balde nos fundos de casa para incentivar a sobrinha.

O improviso viralizou e rendeu mais que uma perspectiva de treino e diversão. Rendeu também uma inesperada conexão com Tainá Paixão, armadora da seleção feminina de basquete e campeã nos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019. Justamente quem a menina mais gosta no basquete.

Tabela improvisada e "encontro" especial
No início do mês, Matheus postou no Twitter fotos da tal tabela improvisada nos fundos da casa de Hadassa. Misto de simplicidade e determinação, a publicação acabou tomando a comunidade do basquete nas redes sociais, chegando ao conhecimento da Liga de Basquete Feminino (LBF) e da Confederação Brasileira de Basquete (CBB).

- Ela decidiu treinar todos os dias comigo, disse que quer ser jogadora de basquete, então decidi incentivá-la e treinar com ela [...] Nem sempre teremos os melhores lugares para treinar. Mas treinaremos em qualquer lugar para sermos melhores. Que a cada dia ela aprenda algo novo para ser melhor lá na frente. "Hadassa gama", quero que ela chegue longe - escreveu Matheus.

Apesar da pouca idade, a menina já escolheu suas referências na caminhada para ser uma atleta profissional. Hadassa é fã de Tainá Paixão, armadora do Sampaio Corrêa Basquete, do Maranhão, e da seleção brasileira campeã nos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019. Entusiasmada com a história de Hadassa, Tainá resolveu presenteá-la em parceria com a LBF: bola oficial, camisas autografadas e uma mensagem especial.

- Eu achei muito legal essa tabela improvisada. O sentimento é de que ela representa a história da maioria das jogadoras no país. A Magic Paula uma vez contou que o pai dela fez uma tabela improvisada pra ela no quintal. Não só ela, mas tantos outros atletas também tiveram história parecida. Tiveram que improvisar um instrumento para poder bricar, treinar em casa - diz Tainá em entrevista ao GloboEsporte.com.
Para a armadora da seleção e do Sampaio Corrêa Basquete, a história de Hadassa dá a dimensão do quanto é preciso acreditar que o que é feito em quadra sempre chega em quem ama o basquete, por mais longe que o fã esteja. Tainá espera seguir contribuindo para que outras "Hadassas" sigam alimentando o sonho do basquete.

- Às vezes a gente do basquete não tem muita ideia da proporção das coisas que a gente pode levar para as pessoas, para as crianças, até pelo fato de a gente não ter tanta visibilidade como outros esportes têm. [...] Eu era uma dessas, que não tinha muita noção de que pessoas de tão longe poderiam estar se inspirando em mim. Ela me viu jogar e escolheu se inspirar em mim. É uma felicidade imensa - conta a armadora.

Após receber os presentes, Hadassa agraceceu: "Tainá e LBF, obrigada pelos presentes. Tchau, beijo!". A idolatria de Hadassa por Tainá não é por acaso. A camisa 8 é um dos pilares da seleção comandada pelo técnico José Neto, que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019. Na grande final contra as americanas, Tainá deu show e saiu de quadra como cestinha do Brasil, 24 pontos.

Magic Paula é inspiração para Tainá
Assim como Hadassa, Tainá também teve suas fontes de inspiração ao dar os primeiros arremessos. A paulista de Jundiaí cresceu com três irmãs mais velhas no meio do basquete. Duas delas foram profissionais e já se aposentaram. Inspirada pelas irmãs num primeiro momento, Tainá passou a mirar Magic Paula, ícone do basquete feminino ao lado de Hortência e Janeth Arcain.

Curiosamente, o primeiro contato entre Paula e Tainá se deu após uma espécie de gafe. Ao entrar em uma rede social e se deparar com mensagens privadas de um tocedor que lhe fazia críticas, Tainá resolveu ler outras mensagens, uma a uma. E não é que lá estava uma mensagem de Magic Paula "ignorada" por Tainá?

Os elogios à jogadora e ao trabalho feito pela seleção eram lidos com meses de atraso por Tainá, que diz que na época "não era muito ligada" em redes sociais. "Como assim eu dei vácuo na Magic Paula?!", costuma brincar. Posteriormente as duas se encontraram em eventos ligados ao basquete, ficando evidente a admiração mútua.

- Ela tem muito a contribuir pra tudo. É impressionante como ela ainda, mesmo depois de aposentada, sabe de tudo o que está acontecendo no meio do basquete, tentando contribuir mesmo que seja com palavras de força, incentivo ou até mesmo uma palavra de crítica - enfatiza Tainá.

Hadassa treina em casa com o tio — Foto: Arquivo Pessoal
Hadassa arremessa em tabela improvisada pelo tio — Foto: Arquivo pessoal
Tainá em ação pela seleção brasileira de basquete — Foto: FIBA.basketball
Magic Paula Basquete mundial 1994 — Foto: Divulgação / CBB

Fonte: GloboEsporte